Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi proibido de comparecer à posse do presidente dos Estados Unidos. A grande mídia, com suas câmeras sempre atentas, capturou imagens do ex-presidente no aeroporto, em lágrimas, lamentando o que enxergava como uma violação de seu direito de ir e vir.
Mas, ao assistir àquela cena, um sentimento misto tomou conta de mim. Aquela imagem me transportou para um passado recente, um período marcado por dor, perdas e descaso: os dias sombrios da pandemia de COVID-19. Mais de 700 mil brasileiros perderam suas vidas. Pais, mães, filhos e amigos foram arrancados do convívio familiar enquanto a nação assistia, perplexa, à negligência do governo federal.
Lembrei-me das declarações frias e desumanas de Bolsonaro, como quando disse que o vírus era apenas uma “gripezinha” ou, pior, quando foi questionado sobre as milhares de mortes e respondeu com um cruel “E daí? Não sou coveiro.” Foram palavras que rasgaram o coração de uma nação que clamava por empatia, liderança e ação.
O Brasil enfrentou uma crise sanitária sem precedentes, mas também enfrentou o negacionismo e a recusa de um governo que demorou a comprar vacinas e desacreditou medidas básicas de prevenção. Quantas vidas poderiam ter sido salvas? Quantas lágrimas poderiam ter sido evitadas se houvesse responsabilidade?
Hoje, ao ver as lágrimas de Jair Messias Bolsonaro, não sinto vingança, mas vejo um símbolo. Um símbolo de que ninguém está acima das consequências de seus atos. Suas lágrimas não conseguem apagar o sofrimento das milhares de famílias que choraram – e ainda choram – seus mortos. Não é uma questão de revanchismo, mas de memória e justiça.
Essas lágrimas devem servir de alerta. Um lembrete de que o poder é transitório, e o que fica são as marcas que deixamos nos outros. As marcas que Bolsonaro deixou nos brasileiros, infelizmente, são profundas e dolorosas. Que suas lágrimas sejam, então, um espelho para aqueles que ainda defendem o descaso e o autoritarismo. Porque, no final, a história sempre cobra seu preço.
Ivo Amorim.